sexta-feira, 25 de julho de 2008

A diferença da diferença


Quando era pequena e andava na escola, tive por uns tempos a alcunha de "defensora dos fracos". E isto porque nunca excluí pessoas pela diferença de cor, de raça, intelectual e até mesmo física.

Lembro-me que por vezes deixava de brincar com as minhas amigas para, simplesmente, sentar-me ao lado do Zé de Jesus em silêncio, em cima de um muro e jogar pedras ao portão que ficava em frente.

Lembro-me de ser chamada ao conselho executivo porque tinha empurrado o professor que estava a bater no João, só porque ele não deu uma resposta rápida.
Lembro-me de juntar dinheiro para comprar um livro de anedotas para as poder contar ao Chiquinho, que tinha sindrome de Down e só se ria dessa forma.

Lembro-me de ter ferido um colega com a minha mala de latão, porque gozou com a gaguez da Silvia.

Lembro-me de falar horas sem conta com o António, (Toninho só para mim) porque mais ninguém conversava com ele.

Lembro-me de desobedecer à regra do silêncio para pedir à professora permissão para a Júlia ir à casa-de-banho.

Depois de ter tantas vezes sido castigada por tentar apenas ser amiga, tenho anos depois, a recompensa. A vida encarregou-se de nos afastar mas a amizade e o reconhecimento fazem milagres. Agora, quando menos espero e às vezes em alturas menos boas, encontro sempre estes amigos. Os amigos que antes eram fracos e que eu defendia, tornaram-se fortes e hoje são eles que se sentam ao meu lado, que às vezes me defendem e tem conversas de horas sem fim.

1 comentário:

@me@@@ disse...

bonito texto...

é incrivel como certas pessoas que julgamos em tempos fracas se tornaram tão fortes, tão seguras e tão amigas... a vida têm me se encarregado de me mostrar que as diferenças somos nós que as fazemos!!!