quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sempre!

Costumo fazer uma ponderação do meu ano, não no fim, mas sempre no Outono. Não sei porquê mas esta estação sempre foi para mim, o inicio de um novo ciclo. E como todas as pessoas, pondero o bom e o menos bom, mas consigo, acima de tudo, dizer que fui feliz! Consigo sobrepor os bons momentos aos que passei menos bem e dizer que sou feliz! Sempre!
Mas hoje, apesar de não ser Outono nem fim de ano, faço a ponderação, não do ano que passou, mas dos meus últimos sete.
Desde 2003 que enfrento e desafio, numa luta desigual e com armas diferentes, a morte. Ela tem-se vestido de muitas cores, tem-me montado diversas ciladas, tem-me feito cair demasiado fundo. E eu, apesar de muitas vezes, já sem forças, já sem animo, encaro-a de frente e continuo a dizer-lhe que sou feliz! Sempre!
Depois de ter saído de um coma, provocado por uma septicemia, e que resultou numa amnésia, tive, no ano a seguir, de enfrentar um divórcio conturbado. Um divórcio que me fez começar tudo de novo, que me fez, inclusive mudar a minha própria vida. A partir de 2005 assisti ao desaparecimento dos meus 3 avós. Em cada ano, perdi um. E a maior perda, em 2008, foi a morte da minha avó Maria. A minha fiel amiga. Aquela que me ajudou a dar os primeiros passos e que assistiu à minha primeira palavra. O meu ombro e o meu colo desaparecia. Olhei de novo a morte e desafiei-a. Disse-lhe que apesar de me ter levado todas estas pessoas, eu continuava a ser feliz.
E em 2009, volto a frequentar os corredores dos hospitais. Desta vez com o meu marido. Rezei a Deus, e perguntei-Lhe tantas vezes "porquê eu?". E quando julguei que Deus me ouvira, cá estou eu, em 2010, a rezar-Lhe novamente, aos pés de meu pai e sempre com a mesma dúvida "porquê eu?". Os dias nos corredores deste hospital, parecem anos....parecem eternos. Não sei porque a vida, o fado, o destino ou o que lhe quiserem chamar, resolvem colocar-me constantemente à prova. Numa prova impiedosa. Num combate desigual e desleal.
Não me lembro de ter partido nenhum espelho, nem passar por debaixo de nenhumas escadas e nem tão pouco de fazer pacto com o diabo, mas, confesso-vos, de alma aberta, de peito ferido, estes sete anos tem-me sugado a minha força, a minha vontade, a minha vitalidade!
E mesmo com estes sete punhais no coração, ainda tenho força para dizer, para gritar ao mundo, que apesar de tudo, eu sou feliz. Sempre!