Mal olhada!

Tanto eu como a Princesa temos andado adoentadas. Entre cólicas, más disposições, rabugice e mal estar geral, ora estava uma, ora estava outra.

Ontem, apareci em casa de minha mãe e diz-me:

Mãe - Como tu estás, rapariga! Que mal encarada que estás! Olha, vocês parecem que andam mal-olhadas. Vou ali à vizinha para vos benzer...a ver se te animas!

Ao fim de um bocado regressa.

Eu - Então que te disse a vizinha?

Mãe - Estavam as duas com "mau-olhado". Mas a Princesa tinha mais que tu. A vizinha diz que como ela é novinha e bonita, tem mais tendência para ficar "olhada". E como tu já não estás tão viçosa, é normal teres um "mau-olhado" mais leve!

Eu - (...)

Fomos avisados de que uma estação de televisão estava interessada em filmar algumas das nossas actividades. Seleccionadas as pessoas que deveriam intervir na gravação, eis que me calha a mim "dançar com a mais feia." Não me fiz de rogada, não senhor!

Ora, fui para casa, um banho de imersão com sais e óleos essenciais para ficar radiosa, o cabelo delicadamente com champô feito com extracto dos lirios do campo, coloquei durante uns minutos pepino nos olhos para minimizar as olheiras e os papos e relaxei. Após o banho, distribuí uniformente creme hidratante, cuide das unhas e passei um pouco de perfume, para quando me fosse deitar ainda sentir o aroma!

Pois, mas isso seria num mundo ideal, que para todos os efeitos não é o meu. Dizem-me em cima da hora que tenho de dar uns minutinhos de ginástica....apenas para a televisão. Se não bastasse aparecer a transpirar, a arfar, ainda vai o país inteiro ver-me de fato de treino! Decididamente não eram estes os 15 minutinhos de fama que dizem que todos temos direito na vida. Vá lá...ao menos tomei um banhito! Já é bom , não?

Não estou preparada para isto! Decididamente...

A Princesa, ontem, estavamos as duas no sofá quando ela começa a falar do dia que teve na escola. Falou dos desenhos que fez, da canção nova que aprendeu e do Rodolfo (já consegue dizer os r's) que é um menino muito mau. E de repente diz:

Princesa - E já aprendi a dizer "maricas".

Eu - Filha, que é isso? Aprendeste na escola?

Princesa - Sim.

Eu - Mas isso não se diz! É uma palavra muito feia!

Princesa - Mãe, (com um ar muito decidido), as meninas têm pipis e os meninos pilinhas. Os meninos que gostam de pilinhas são maricas. Eu já sou muito experiente!

Eu - ... (quase que me deu um treco!)

Apesar de andar mais bem disposta sob o efeito da fluoxetina, do humor andar mais "radiante", da ansiedade ter minimizado, de ter pensamentos tipo "deixa para amanhã o que podes fazer hoje"....ando, tipo, nas nuvens.

Agora ainda não percebi bem porque é que trouxe uma meia de cada cor, esqueci-me de fazer metade das coisas que supostamente deveria ter feito de manhã, tipo pentear-me e perfumar (lavei os dentes! ao menos isso - ah, e vim vestida!) e ainda olhei para o acento de trás do carro, para ver se não me tinha esquecido de deixar a Princesa na escola.

Acho que tenho de fazer uns ajustes na medicação. Tenho, tenho!

Haverá figurinha mais triste que vir no caminho para o trabalho, a cantar aos gritos, a música que vai passando na rádio? Tentem ouvir os Queen, com "Bohemian Rhapsody", e ficar de boca calada sem soltarem a doida (ou doido) que há em vocês...vá tentem....

Poupança #2

Outra forma, digamos, jeitosa para se poupar qualquer coisita é quando temos de demolhar bacalhau. Ora, este peixe tão apreciado por quase todos os portugueses e tão típico na nossa gastronomia, para conseguir ter o tempero comestível, tem de se mudar n vezes a água. Uns mais que os outros, mas temos de mudar a água ao bacalhau diversas vezes (onde já ouvi a desculpa, "já volto que vou mudar a água ao bacalhau?").

A modalidade mais económica para, neste caso, poupar-se água é colocar o bacalhau dentro do reservatório que se encontra, normalmente, por detrás da sanita, vulgarmente conhecido por autoclismo.

Metam o bacalhau dentro do autoclismo e por cada vez que forem à casa-de-banho e puxarem a água, estão a contribuir para demolhar o bacalhau e assim, poupar água. (ah já sei! Quando quero sair de mansinho e estou a aturar idiotices!)

Nota suplementar: a autora deste blog ainda (notem o negrito), não experimentou esta modalidade!!

Hoje não vamos falar de tristezas (deixem lá ver se até ao final do dia mantenho este espírito!) mas sim fazer figas e pensar positivamente e apoiar, logo mais à noitinha, a nossa selecção.

Haja alguma coisa que nos console!

E que as tácticas e a linguagem gestual do nosso novo seleccionador comecem a dar frutos!

Poupança #1

A Agência Financeira publicou vários truques para nós pouparmos. Ora, um deles consiste em lavarmos menos vezes a roupa, nomeadamente as calças de ganga. Segundo as grandes marcas de fabricantes de roupa de ganga, aconselham a usar-se as calças, antes da primeira lavagem, cerca de uns 6 meses e num programa soft. As próximas lavagens poderão esperar mais uns 3 ou 4 meses, ou seja, uns mesitos antes de ficarem de pé sozinhas.

Nem sei por onde começar. Deixei de conseguir que as palavras se soltassem, deixei de conseguir transmitir a mágoa em que vivo e o tormento em que se tornaram os meus dias.

Fecho os olhos e vejo-me ainda com tanta vida pela frente e sem vontade para a viver. Fecho os olhos e apercebo-me que afinal há presenças que se tornam fantasmas antes de o serem. Sinto que tudo me foge entre dedos, sinto que o fogo da minha força, perdeu o seu calor. Não tenho mais abraços saídos do nada, saídos do silêncio e que me davam todo o apoio para o que for que viesse. Não tenho mais colo para chorar. Não encontro o ombro que nos meus piores momentos aparecia. Vejo-me com tudo tão perfeito mas sinto-me invisível a todos à minha volta. O meu queixume já não é ouvido. O aperto no peito já não é tido em conta. O meu silêncio já não preocupa mas tornou-se um alivio. As minhas feições perderam a felicidade, perderam a alegria. Ninguém já me vê rir, sorrir mas também já ninguém me pergunta porquê. Para quem raramente cai, é difícil para os outros aceitar que afinal estou cansada, afinal sou humana e sinto-me esgotada, sinto-me sozinha, desamparada. Dizem que as pedras são duras e que eu em pedra me tornei. As pedras não choram mas eu todos os dias choro. Todos os dias sinto o desabafo nas lágrimas que escondidas lá percorrem a face esgotada. Dizem que a morte tráz paz, sossego e talvez assim possa sentir um pouco daquilo que grito e preciso mas que ningém ouve...

Mesmo que se faça zapping por todos os canais informativos, as palavras de ordem são quase sempre as mesmas "crise", "fundo", "PIB", "austeridade", "cortes", "congelamentos", "desemprego" e continua...

Se analisarmos as noticias na internet ou nos jornais e tentarmo-nos alegrar, pois....é mentira!

Sem dúvida que o País atravessa uma grave crise económica e que faz a todos andar muito tristonhos. Todos os dias se ouve falar em créditos mal-parados, famílias com cerca de 15 e 16 créditos, penhorados e endividados até ao pescoço.

Sente-se no ar uma melancolia constrangedora e apercebo-me que na aldeia em que vivo, e que até hoje julgava um cantinho no céu, já há pobreza, já andam a mendigar, já se anda a angariar produtos alimentares para conseguir colmatar esta crise e o desespero de quem gasta tudo em medicamentos e não tem dinheiro para comer.

Vejo as pessoas, nos corredores dos supermercados, com uma atenção redobrada ao produto que mete no carrinho, independentemente da qualidade, vê-se primeiro o preço.

Apercebo-me que nas mercearias da aldeia, é um número infindável de "meta na conta que depois eu pago!".

Ainda as lareiras nem se acenderam, ainda nem a alma acalentamos e já se vê pouco movimento na rua, no café. As petiscadas com os amigos reduziram e as pessoas trazem um semblante carregado.

E pior, muitos nem saberão se conseguem manter o emprego até ao Natal.

Muitos carros que vemos encostados, apercebemo-nos que estão avariados pela quantidade de erva que nasce debaixo deles, porque os proprietários não têm dinheiro para os mandar arranjar.

A escola ainda se mantém aberta, porque conseguiram arranjar um menino-fantasma para manter a tal conta dos 21 alunos. E assim os pais ao menos vão poupando nos passes....mas até quando?

E depois de tudo isto, os media não nos ajudam! As noticias são tristes de um Portugal triste, de lares inteiros tristes e desesperados.

E o grave, grave é que anda uma maioria tristonha, desesperada e a tentar sobreviver para que exista uma minoria alegre e feliz à conta de todos nós!

Trabalhamos alguns sábados, alguns domingos, feriados e muitas horas extra e muitas que pertencem ao horário de almoço. E nunca mas nunca são horas restituídas ou remuneradas. Trabalhamos e a maior parte das vezes nem nos queixamos. E fazem-nos vir trabalhar uma segunda-feira, véspera de um feriado, sem direito à folgazinha?

Estou de trombas! É óbvio!

Só podem estar a gozar connosco!

"O Governo comprou um Mercedes S450 CDI, topo de gama, no valor de 134 mil euros." (in TVI24)

Meus queridos...

Foto: Najla

...um excelente fim-de-semana!
E façam o favor de serem felizes - já dizia um grande senhor!