Estava ansiosa. Talvez por ser o primeiro natal que iria ser passado em sua casa, talvez porque todos estivessem na espectativa do que iriam encontrar, talvez apenas porque estava finalmente a concretizar um desejo que há muito se havia perdido: reunir toda a família.
Já passavam das 19h00 e ainda ninguém chegara. Ela, vestiu o longo casaco preto e saiu à rua. Estava deserta, e a notar-se pelo vapor que saía de sua boca, conseguia bem perceber. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha e aconchegou o casaco ao pescoço. De mãos ao peito, olhou para o céu e quase não conseguiu vislumbrar estrelas. A noite estava escura. Deu uns passos e saiu do seu pequeno jardim, que ficava em frente à sua casa. O cheiro a lume pairava no ar. A aragem da noite, molhava-lhe a face e os cabelos. E ela, tentava ver alguém conhecido, que o seu destino fosse a sua casa.
Fizera correr pela sua cabeça durante uns rápidos segundos, as coisas que já fizera e que afinal não se esquecera: o pai não gostava de bacalhau e ela preparara-lhe o seu prato favorito; o espumante estava no frio para bebericarem quando passassem aos doces, o vinho tinto tal como o branco foram criteriosamente escolhidos, ou não vivesse ela na esplêndida região de vinhos maduros. A sua mãe adorava arroz doce. E ela, apesar de pouco saber elaborar doces, estivera até de madrugada, que era quando tinha mais sossego, a preparar delicadamente, o arroz doce.
A mesa.....ah a mesa! Tinha tirado a sua melhor toalha, o seu melhor serviço e o seu faqueiro - que ela achava que nunca tinha sido usado. Uma decoração muito simples mas requintada.
Os presentes eram personalizados. Bastava olhar para cada um dos seus familiares e conseguia perceber com bastante clareza o que cada um gostaria de receber: para o pai um casaco de lã, para a mãe um xaile, para a irmã um livro...e para aquela pessoa especial, um perfume. E era sempre o mesmo perfume. Sim, porque era aquele perfume que ficava nos lençóis e na almofada, quando de madrugada ele saía de sua casa. Sim, aquela casa que agora esperava todas as pessoas que lhe percorriam pela cabeça. E com este pensamento final, ouviu ao longe a voz familiar de seu pai. Aí estavam eles.
"Aqui fora com este frio, rapariga!? Anda para dentro!"
E assim, fora o primeiro natal do que ela esperava ser o primeiro de muitos mais.
4 comentários:
São pessoas como você que fazem com que o meu blog ainda exista.
Obrigada por seu carinho!
Que no próximo ano nosso laço de amizade seja ainda mais forte.
Um beijo carinhoso
que falta de vergonha! oferecer sempre o mesmo perfume?
bem que podia ser um igual ao anterior...
O teu conto tem pessoas bonitas, sabias?
:)
Desejo-te um óptimo 2010 cheio de coisas boas!
beijo grande,
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