domingo, 27 de dezembro de 2009

Um pequeno conto


Estava ansiosa. Talvez por ser o primeiro natal que iria ser passado em sua casa, talvez porque todos estivessem na espectativa do que iriam encontrar, talvez apenas porque estava finalmente a concretizar um desejo que há muito se havia perdido: reunir toda a família.
Já passavam das 19h00 e ainda ninguém chegara. Ela, vestiu o longo casaco preto e saiu à rua. Estava deserta, e a notar-se pelo vapor que saía de sua boca, conseguia bem perceber. Sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha e aconchegou o casaco ao pescoço. De mãos ao peito, olhou para o céu e quase não conseguiu vislumbrar estrelas. A noite estava escura. Deu uns passos e saiu do seu pequeno jardim, que ficava em frente à sua casa. O cheiro a lume pairava no ar. A aragem da noite, molhava-lhe a face e os cabelos. E ela, tentava ver alguém conhecido, que o seu destino fosse a sua casa.

Fizera correr pela sua cabeça durante uns rápidos segundos, as coisas que já fizera e que afinal não se esquecera: o pai não gostava de bacalhau e ela preparara-lhe o seu prato favorito; o espumante estava no frio para bebericarem quando passassem aos doces, o vinho tinto tal como o branco foram criteriosamente escolhidos, ou não vivesse ela na esplêndida região de vinhos maduros. A sua mãe adorava arroz doce. E ela, apesar de pouco saber elaborar doces, estivera até de madrugada, que era quando tinha mais sossego, a preparar delicadamente, o arroz doce.
A mesa.....ah a mesa! Tinha tirado a sua melhor toalha, o seu melhor serviço e o seu faqueiro - que ela achava que nunca tinha sido usado. Uma decoração muito simples mas requintada.

Os presentes eram personalizados. Bastava olhar para cada um dos seus familiares e conseguia perceber com bastante clareza o que cada um gostaria de receber: para o pai um casaco de lã, para a mãe um xaile, para a irmã um livro...e para aquela pessoa especial, um perfume. E era sempre o mesmo perfume. Sim, porque era aquele perfume que ficava nos lençóis e na almofada, quando de madrugada ele saía de sua casa. Sim, aquela casa que agora esperava todas as pessoas que lhe percorriam pela cabeça. E com este pensamento final, ouviu ao longe a voz familiar de seu pai. Aí estavam eles.
"Aqui fora com este frio, rapariga!? Anda para dentro!"

E assim, fora o primeiro natal do que ela esperava ser o primeiro de muitos mais.

4 comentários:

Eu disse...

São pessoas como você que fazem com que o meu blog ainda exista.

Obrigada por seu carinho!

Que no próximo ano nosso laço de amizade seja ainda mais forte.

Um beijo carinhoso

Vício disse...

que falta de vergonha! oferecer sempre o mesmo perfume?
bem que podia ser um igual ao anterior...

Paulo Lontro disse...

O teu conto tem pessoas bonitas, sabias?

:)

Pi disse...

Desejo-te um óptimo 2010 cheio de coisas boas!

beijo grande,