
Perante a indiferença que a figura materna estabelece entre os seus filhos, é necessário que a criança que menos recebe, procure mimos e colo fora de casa, para que possa crescer saudável e pouco carente. A ausência de um beijo, a frieza da distância de um abraço, de um colo, faz com que essa criança, a menos acarinhada, procure em outros braços, em outros colos essa necessidade. E só assim, poderá dizer um dia, que teve uma infância feliz.
Quando se é adolescente, é necessário desenvolver uma grande força interior para esconder a mágoa e o desânimo, sendo o seu carácter moldado à distância de sua mãe. O ciúme que outrora tivera de seus irmãos, fora trabalhado e transformado, também ele, em indiferença. Ao choro de seus irmãos, sua mãe corria e acudia. Ao seu choro, sua mãe praguejava. Os amigos e colegas preenchiam o vazio, e só com a sua determinação e um grande amor próprio, pode dizer que teve uma adolescência feliz.
Quando adulto, mostrou uma personalidade forte e determinada, mas muito distante, fria, cautelosa, fechada e independente. E só assim conseguiu continuar a apreciar, de ânimo leve, o apreço de sua mãe a seus irmãos e o despego a si próprio. Em troca, só pretendia resposta à pergunta "porquê?". Mas perante o medo da solidão, rendeu-se ao silêncio pois este sempre fora um bom aliado e companheiro. Quando se realizou profissional e pessoalmente, pôde dizer que era feliz.
Mas quando a indiferença passou para o seu descendente, e vê, estampado no rosto de seu filho, o seu retrato, a sua pequenez, o coração começou a ficar apertadinho, o nó na garganta desatou e o choro contido apareceu.
Porque o seu "porquê?" que nunca tivera resposta para si, agora exigia-o, porque afinal o que sempre quis era igualdade.
Porque o seu "porquê?" que nunca tivera resposta para si, agora exigia-o, porque afinal o que sempre quis era igualdade.